quarta-feira, 25 de julho de 2012

Musica.




Eu nunca pensava em musica, não fazia ideia e ainda não faço do que é ser um musico, mas ouvia meu pai...

Tocando piano como só ele sabe tocar, eu ainda era muito pequeno, mas de alguma forma, entre toda minha carência e inocência, entre tanta coisa sem sentido, ouvi-lo fazia todo o sentido, eram notas fortes, o baixo e o alto intercalando-se de forma espetacular, mesmo sem saber o que era, eu me apaixonava por aquilo que jamais veria ou tocaria, a musica.

Lembro que minha mãe ouvia Country, era outra língua, uma voz grave, eu realmente não fazia ideia do que era dito, mas de alguma forma eu entendia e em minha mente traduzia pelo tom, mesmo sem saber o que era tom, pela harmonia, o jogo dos acordes, a batida da palheta, a força da bateria, eu traduzia, eu entendia.

As vezes meu pai pegava a guitarra, tocava o que hoje eu sei que é Pink Floyd, e cara ele fazia o solo inteiro, ainda faz, e eu não sabia o que era, mas tinha certeza que era perfeito, noutras vezes ele colocava um CD do Ray Coniff ou do Roberto Carlos, Raul, isso quando não passava ouvindo a coleção do Julio Iglesias, e foi ao ritmo de bamboleo que eu tive minhas primeiras aulas de espanhol, as vezes colocava um velho disco do Brian Adams que ainda tenho.

Mas o que ele mais pegava era a senhora Gaita, a velha e poderosa gaita, e ela chorava nas mãos dele, ainda chora, quando íamos visitar meu tio os dois tocavam juntos, e a verdade... 
É como se eles conversassem sem dar uma palavra, um vai e vem de escalas e harmonias que parecia que eles ensaiavam a décadas, na verdade há muito tempo eles ensaiavam juntos sim, mas isso havia sido há muitos anos.

Lembro que minha Mãe sempre ligava, e ainda liga o rádio pra limpar a casa, o rádio era tão presente quanto a TV, no começo era só o rádio que tínhamos mesmo e não faltava mais nada, e a limpeza era e sempre será embalada por musica.

Eu nunca quis ser musico, eu nunca tive aquilo que chamam de dom, talento, continuo não tendo, continuo não sendo, mas...

Entre tanta ignorância, preconceito, guerra, corrupção, entre tanto medo, ansiedade, orgulho, egoísmo...

De alguma forma...

A musica continua fazendo sentido, continua me mantendo vivo, continua grudada em minha pele, continua fervendo em meu corpo, correndo em minhas veias.

E quando uma musica boa toca é como se cada molécula do meu corpo vibrasse em outra frequência, como se todos os problemas desaparecessem do universo, e só existe aquele momento, só existe o som, a harmonia perfeita de instrumentos, voz e silêncio.

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